7 de paus

ela tatuou o 7 de copas bem pequeno no pulso e me mostrou na fila do banheiro do bar. fingi que não gostei para ver a reação dela e sentei à minha mesa. Dae ela veio toda miami ink me falar o que o 7 significava para ela. Pedi pra me mostrar de novo, disse ah, tá até bonitinha. Ela voltou com o papo dos 7. eu disse, é um bom filme, o seven. Ela me deu um tapa. Eu disse faltam 6. ela disse que eu não tinha mudado nada. Eu disse que era essa a nossa história. Ela disse que nossa história foi rápida, mas dava um filme. Eu falei que dava uma sinopse. A gente sorriu, se abraçou e eu falei pra ela no ouvido bem baixinho têm sinopses que contam o filme inteiro. Começo, meio e fim.

Calenza

mala pronta

ela foi entrando e disse estou aqui de passagem, a vida é uma mala pronta e eu completei na minha cabeça, pra viagem. Ela veio até mim e disse que ta com essa música na cabeça, faz uma coisa pra tirar ela daqui? Eu dei um beijo na testa dela e cantei a música inteira. ela disse que não adianta e eu falei pra ela ouvir a música de novo. Meu ipod ta na minha mochila do lado da cama. Eu fui tomar banho e a porra da música não saía da minha cabeça. ela veio deu um beijo na minha testa e não cantou nem a primeira estrofe inteira.



calenza

Playlist

Andar de fone pela rua com o Ipod desligado é se desligar. Se desligar do que te rodeia.Se isolar numa multidão que te isola. Mas sem cortar o cordão. É ouvir e fingir que não ouve. Pra não ter que dar opinião. Pra ter uma opinião que não pode ser discordada. Porque é só sua. É fingir que tudo está bem. Que a suposta música que toca é um passatempo. Na verdade é. Faz passar o tempo, porque esse sim está fingindo. Fingindo que passa devagar. Se relacionar é ouvir o Ipod desligado. É aceitar o que te rodeia e fingir que está tudo bem. Eu ando com Ipod no último volume. Pra escutar só o que me agrada. Colocar no playlist só o que me interessa. Só tirá-lo pra ouvir quem realmente me interessa. Aceitar alguém é colocá-lo no seu playlist. Dar play porque te agrada. A vida é uma lista dessas coisas que você gosta. As que você não gosta você nem coloca no Ipod. Ou andar com ele desligado pra escutar e não ter que opinar. Como é bom ouvir só o que você gosta. Algumas músicas enjooam e você tira pra não ouvir mais. Ou recoloca pra relembrar a época que ouvia...

Claudio_Applelife_mar

Rabo de olho

Sentou do lado dela no ônibus. Nem conhecia. Na verdade nem olhou direito pra ela.Só percebeu que era bonita de rabo de olho. E porque o final do longo cabelo dela terminava em cima da sua perna. Não por muito tempo. Ela percebeu e tirou. Perfume delicioso. Ela de óculos. Virava o rosto suficientemente para olhar pra ele também. Covardia. Só ela podia. Ele se espreguiçou e disfarçamente virou pra ela. Linda. Exótica. Perfeita. Ela lia Almodovar. Ele pensou que os filmes são bem melhores que os livros. Mas ele lia Woody Alen. Vale o mesmo comentário. Ela ameaçou falar algo. Mas devia estar só pensando alto. Ele com vontade de falar algo. Oportunidade única. Ela estava na última página. Perfeito. Ele ainda tinha duas. Correu pra ler rápido. Terminou bem na hora. Os dois fecharam os livros. Ela sorriu, como quem concorda com o final. Ele sorriu. Por outros motivos. Sem olhar pra ela ele disse:
- Gostou?
(ela sem olhar pro lado)
- Prefiro os filmes.
Continuaram sem se falar até chegar ao destino... o mesmo destino.
A última página do próximo livro.


Claudio_marés (viva a sexta-feira)

Essa faz meu gênero

eu tava no bar explicando que, no futuro, vou lançar a locadora de crianças porque ninguém quer ter filho mais. Funciona assim: você precisa duma criança dramática para um enterro, vai lá na local kids, lê a sinopse e escolha a sua. Se quiser passear no parque, alugue uma criança ação, ou uma comédia se quiser fazer bonito frente ao sexo oposto sei lá, são infinitos os gêneros criançais hoje em dia. Dae ela me pergunta tirando do azul (tradução literal de out of the blue, esses caras que dão nome pra filme são uma merda*) se se ela quiser ter um filho pode comprar na submarino ou deve partir pra uma produção cinema novo (uma câmera na mão e uma idéia na cabeça). eu a alerto contra os perigos dos trocadilhos que ela sustenta e a garota sorri dizendo que quer escrever um roteiro a quatro mãos...



calenza em * alto teor de piada interna

quem te viu, quem te vê

Ele chegou no bar com uma amiga e foi apresentando o pessoal, pulando a menina que não conhecia. Sentaram à mesa e foram logo chamando um americano pra ajudar a dar liga na falação que se iniciava. A menina que ele não conhecia fumava e entre um trago e outro soltou na fumaça eu já te vi. Ele emendou na hora, se foi pelado, desculpa. Ela disse, ainda não e a mesa veio a baixo.

Calenza em enxergando melhor

Nosso universo

Ela colocou the universal do blur no som e antes de virar pra mim dançou a introdução brincando com os pés, fingiu que voltaria pra mim e voltou dublando This is the next century Where the universals free You can find it anywhere deslizando o indicador onde o meu indicador tanto dança. E como ela cantava com as mãos. não podia me mover porque nosso universo se expandia rápido demais. Ela deslizava macia até mim e a sala ouvia Says tomorrows your lucky day Well, heres your lucky day. A gente pára a música no auge e volta pro começo quantas vezes dá na telha porque não tem pressa. How we like to sing along. This is the next century… every paper that you read… Yes, it really, really, really could happen… This is the next century…

Calenza just let them go